Vazio desconhecido, já não sei mais se és visita ou inquilino.
A cada manhã Tu cresces e floresces, cria ramos e reivindica espaços que não lhe pertence.
Nunca vi teu fruto, não conheço a tua espécie.
Eu estava sempre ali, olhando para aquele oceano exigindo respostas. A sua presença não me estranha mais. Tua brisa fria e agonizante não me incomoda mais.
Porém ainda és mistério para mim. Não sei o que há dentro de ti, o que emana de ti ou o teu ímpeto. Mas sei que estás aqui, nunca vais partir.
Vazio desconhecido, que de tanto conhecê-lo tornou-se amigo ou inimigo. Saberia dizer se ao menos soubesse o que fazes aqui. Tomara que não seja demasiado tarde.
Grande desconhecido e profundo Vazio. Há tudo e nada na negritude da tua imensidão. O que há dentro de ti? O que fazes crescer? Por que ainda persistes?
Consigo sentir teu peso, tua densidade e teu desejo fulminante de emergir à superfície.
Eu não desejo reter-te nos meus olhos; ou será que és tu quem teme sair?
(O que poderia acontecer?)
Abomino o desconhecido ao passo que repudio a incompreensão e não compreendo-te; talvez por isso ainda existes. Quem sabe eu só precise conhecê-lo, Vazio Desconhecido, e então deixá-lo ir.
Sei que, para isso, terei que procurar em mim a razão pela qual tu existe. O que dói. Como consegui esconder-te por tanto tempo?
A verdade é que conheço-te mais do que gostaria. Sim, eu decidi esquecer-te, pois é mais confortável desconhecer-te do que fazer-te existir.
Não sei por que ainda insisto em mergulhar no abismo o qual criei para ti, para nunca mais lembrar-te.
Sim, Vazio, fui eu quem te criou, talvez eu o alimentei, mas eu não escolhi os eventos da tua criação.
Tão somente gostaria de continuar a chorar pelo desconhecido.
Conhecido Vazio desconhecido, tu deténs a razão daquilo que me faz sentir vulnerável e insuficiente incessantemente.
O que poderei fazer? O que de fato queres? Não posso eu voltar ao passado e impedir dolorosos acontecimentos. O “eu” quem criou-te não existes mais, sequer sei como funcionas.
Não quero eu ser punido duas vezes, então, por favor, permita-me desconhecê-lo mais uma vez.
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