Aquele dia você se sentou na cama,
os olhos lacrimejando, peito em chamas.
Se perguntava se tudo aquilo fazia sentido,
procurava em si o que havia morrido.
Lembra aquele dia em que nada existia?
Apenas sua dor submersa na água fria,
enquanto o mundo ardia em gritos, pavor,
mas nada era maior do que toda a sua dor.
Aquele dia você jurou que queria morrer,
que era insignificante demais para viver.
Restava nada para ser quebrado,
apenas cacos a serem juntados.
Você estava chorando e tremendo,
seu coração palpitando e ardendo,
sentindo que algo terrível advém,
tomando controle, a me fazer de refém.
Aquele dia cogitava uma possibilidade,
como se fosse uma fuga da realidade,
capaz de te tirar da ilusão e carência,
para viver na imensidão da inexistência.
A incerteza era a resistência,
tudo era sobre a dor,
nada sobre amor,
tudo sobre como acabar,
nada sobre começar
e mudar o imutável,
o impugnável,
o sentenciado.
Uma vida iniciada em sangue e dor,
talvez terminaria como começou,
mas o medo não te deixou,
forçando a viver com ou sem amor.
Aquele dia foi difícil te acalmar,
fazer teu coração desacelerar.
As lágrimas demoraram a secar,
e seus pedidos, pesados de aceitar.
Dói ver sua dor, dói ainda mais senti-la.
Tento esquecer, tento reprimi-la.
Machuca mais em mim do que em você,
pois você se alimenta dela,
enquanto, apesar dela, tento sobreviver.
Aquele dia entendi que precisa de mim,
e que sobreviver não é o suficiente para viver.
Eu lutei muito para poder sair daquele abismo,
enquanto você quis me arrastar para o limbo.
De verdade, não sei o que espera de mim,
e parece que a sua labuta não vai ter fim,
já que dorme em um túmulo — continue assim.
Está cansado de tudo,
e eu também, de você e do mundo.
Você deveria me proteger,
mas acaba piorando tudo.
Devo te odiar ou agradecer?
Sabe, o mais injusto é saber que você foi a parte que surgiu,
nasceu, aprendeu e que desistiu.
Mas serei eu quem morrerá,
o que você não conseguiu fazer.
E o que você queria tanto alcançar,
serei eu quem vai experimentar.
Mas não se sinta assim.
O que eu queria também foi tomado de mim.
Você não quis nascer, e eu não quero morrer.
O que para você seria um prazer,
mas é o meu corpo que irá jazer.
Então, não. Não vou ter o que quero,
e nem você.
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